CIÊNCIA
O homem não para, e a ciência, com o passar dos anos, vem estudando e elaborando cada vez mais projetos e ações em prol da saúde humana. Na área da genética, por exemplo, os pesquisadores da Universidade de Fortaleza (Unifor) acabam de dar mais um passo importante neste processo, com o nascimento do primeiro clone caprino transgênico da América Latina, no último dia 27 de março.
O objetivo com o feito pioneiro é produzir uma proteína capaz de combater a doença de Gaucher: a glucocerebrosidade humana, uma enzima que processa um lipídio no organismo, mas que é ineficiente em pessoas portadoras da patologia.
Segundo ressaltou um dos coordenadores do projeto, o pesquisador e doutor em Fisiologia, Marcelo Bertolini, trata-se de uma das proteínas com maiores gastos no Brasil. Somente em 2012, segundo ele, foram mais de R$ 180 milhões para tratar um pouco mais de 600 pacientes em todo o País, um custo estimado em mais de R$ 200 mil por ano para cada portador da doença.
"O fato é que somos hoje 100% dependentes da importação de proteínas como essas, chamadas de recombinantes e utilizadas como medicamentos. A pessoa que sofre essa mutação tem que levar uma injeção dessa enzima a cada duas semanas. É uma demanda e um custo muito alto para o Brasil, que tem a obrigação de custear o tratamento de doenças caras e raras, como esta. A produção desta proteína visa essa independência para o País", explicou.
Conforme esclarece, o propósito com o clone transgênico é extrair a proteína do leite, purificá-la e depois testá-la para, em seguida, se trabalhar na produção do medicamento. A expectativa, uma vez identificado a presença da glucocerebrosidade humana e comprovada sua ação pelos testes, que entre cinco e dez anos ela esteja pronta para utilização. "Isso é um marco para a Unifor e para o Brasil. Não existe nenhum clone caprino transgênico produzido nos trópicos, entre os paralelos 30o norte e 30o sul do mundo", diz.
Além da Fundação Edson Queiroz, a pesquisa é apoiada por um projeto de Subvenção Econômica da FINEP-2009, em direta colaboração com a Quatro G Pesquisa & Desenvolvimento Ltda., empresa situada no TECNOPUC da PUCRS, e a Agropecuária Esperança Ltda., do Grupo Edson Queiroz.
Os trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores, que tiveram início em 2011, contam, ainda, com a colaboração de estudantes da Unifor, servindo como relevante experiência no meio acadêmico e na formação profissional.
"É um programa multidisciplinar. Temos estudantes do Doutorado em Biotecnologia, e do Programa de Iniciação Científica dos cursos de farmácia, fisioterapia e medicina", destaca a doutora em genética e também pesquisadora do projeto, Luciana Relly Bertolini.
Outros grandes marcos da Unifor na área da genética ocorreram no ano de 2012, com o nascimento do primeiro clone caprino do Brasil e das primeiras cabras transgênicas para a expressão da lisozima humana no leite. Os animais foram fruto do projeto da Rede de Caprino-Ovinocultura e Diarreia Infantil do Semiárido (Recodisa). O objetivo foi criar caprinos para a produção de leite com a proteína lisozima, uma proteína antimicrobiana presente no leite materno humano, que age como fonte extranutricional de resistência a infecções e um aliado no combate à desnutrição e à mortalidade infantil.
FONTE DIÁRIO DO NORDESTE