Facebook

Você é muito importante para nós. "Sejam Bem Vindos"

malvinas-news.blogspot.com.br

malvinas-news.blogspot.com.br
Responsável

domingo, 28 de abril de 2013

CULTURA: Tradição e Moderna

MALVINAS NEWS NO AR NOSSO PORTAL DE NOTICIAS
FONTE DIÁRIO DO NORDESTE

O mestre Espedito Seleiro ganha mostra na capital paulista, protagoniza documentário e monta museu sobre o couro em Nova Olinda, no Cariri cearense


Camisa social azul escuro e calça bege. Bolsa a tiracolo e sandálias de couro com a grife que leva seu nome. Assim, Espedito Velozo de Carvalho chegou ao museu onde estão expostas suas criações, em São Paulo. Era uma quarta-feira, comecinho da noite, dia 3 de abril, data da abertura da mostra “Espedito Seleiro: da sela à passarela”. Como todo bom anfitrião, ao lado do filho Maninho, recebeu convidados, concedeu entrevistas e posou para fotos. 
No ofício desde criança, já inventou de tudo com o couro de vaca ou  bode. Fotos: Patrícia Araujo e Francisco Moreira da Costa/Acervo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan 

De tão à vontade, parecia acolher os visitantes no próprio ateliê, instalado em Nova Olinda distante cerca de 2.500 quilômetros da maior metrópole brasileira. Porém estava numa das salas de A Casa – Museu do Objeto Brasileiro cuja finalidade é contribuir para a valorização e desenvolvimento do artesanato e do design nacionais.

Por tudo o que representa, o cearense conseguiu exatamente isso: reconhecimento. Há quatro anos, é Mestre da Cultura diplomado pelo Governo do Ceará e foi agraciado, em  2011, com a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura. Em 2005, um marco na carreira: com a mulher, Francisca, e o filho Maninho, assistiu, em plena passarela da São Paulo Fashion Week, ao desfile da Cavalera, que apresentou peças da sua lavra. Elas já apareceram até em filmes e novelas.

O artesão também conquistou gente famosa, a exemplo de Luciano Huck e Mariana Ximenes. “Prefiro não falar nome de ninguém. Clientes são todos iguais para mim”, diz. Ressalta, no entanto, Violeta Arraes, ex-secretária de Cultura do Ceará, que ganhou bolsa com seu nome.   

“É bom ver uma peça minha na TV, num filme, nos desfiles, mas os pedidos aumentam e, às vezes, não consigo dar conta. O trabalho artesanal demora. Certa vez, um rapaz queria mil bolsas em 40 dias. Expliquei que não crio no computador, tem que ter o maior carinho para ficar benfeito. Aí, ele foi embora satisfeito com umas cinco”.

No ofício desde criança, já inventou de tudo com o couro de vaca ou  bode. Ao seguir a tradição familiar, imprimiu marca respeitada que transita entre áreas afins: design, moda e decoração. São sandálias, bolsas, carteiras, colares, cintos, tapetes e cadeiras, dentre outros artigos coloridos.

Sela e gibão

Do bisavô Antônio Velozo de Carvalho, do avô Gonçalves Pinto de Carvalho e do pai, Raimundo Pinto de Carvalho, conhecido como Raimundo Seleiro, herdou a arte de produzir artigos para vaqueiros. “Meu pai era de Nova Russas, mas vivia como cigano. Era seleiro, vaqueiro, organizava as fazendas. Desde os 8 anos, ajudava ele, fazendo sela e chapéu, e ele me ensinava”.

Apesar de ter o nome fortemente ligado ao Cariri, o mestre nasceu há 73 anos em Arneiroz, na região dos Inhamuns. Aos 10,  foi morar num sítio em Nova Olinda. Além da lida na roça, abatia bode e aproveitava o couro. 

Em 1962, já casado com dona Francisca, mudou-se para o Centro da cidade. “Nesse tempo, tentei fazer meu primeiro gibão. O vaqueiro devolveu porque eu tinha pregado as mangas ao contrário. Agora, fica benfeito. Mas ainda tem gente que me aperreia por causa disso”, diz, ao abrir aquele sorriso. 

Até hoje, lida com as “coisas de vaqueiro”, contudo teve de promover uma reviravolta quando se deu conta de que essa clientela estava rareando. “Então, disse para Francisca: vou mudar, fazer um estilo só meu, preciso vender mais”.  Na época,  em 1971, o pai havia falecido e ele, como primogênito, ficou responsável pelo sustento de oito irmãos.
Dessa decisão, resultaram sandálias monocromáticas (tipo cangaceiro) e uma fonte de renda capaz de garantir o ganha-pão da família. Com exceção de Marinês, residente em São Paulo, os herdeiros trabalham com ele: Cícera, Edivânha, Francisco (Maninho), Wellington (Wilton) e José Roberto (Zé). As noras Ana Maria e Antônia Irenilda também: “Se eu fechar os olhos, tenho seis filhos que sabem fazer muito bem. Caprichei para ensinar a eles”.
Dona Francisca é uma das principais responsáveis pelo sucesso da oficina. A esposa não se dedica mais às peças como antigamente, contudo, se precisar, socorre nos pespontos. Por muitas vezes, ela saía de madrugada, ao lado do marido, para levar os artigos até a parada do transporte que Espedito tomava para ir à feira semanal de Campos Sales. 

“Certo dia, voltei da feira, e ela havia entregado o ponto que tinha há 26 anos porque estavam querendo aumentar muito o aluguel. Quando vi, tudo que tinha dentro estava em frente da nossa casa. Nem briguei com ela. Pra quê? Perderia a mulher e a mudança. Francisca me ajudou muito nesta vida”.
E assim surgiu o ateliê como extensão da residência que virou referência cultural na pequena cidade de 14.256 habitantes. Recentemente, ele inaugurou uma loja em frente. Todavia, tudo permanece como antes. Em um dos cômodos, funciona a oficina. No outro, são expostas a produção, uma máquina de costura antiga, matérias de jornais, fotos de desfiles, clientes e visitantes, como o músico Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, e a atriz e apresentadora Regina Casé. 

A história bem-sucedida do artesão começou em 1993, com a encomenda de um amigo: “O Alemberg (Quindins, diretor-presidente da Fundação Casa Grande) me pediu uma sandália colorida de Lampião. Até duvidou que eu aprontasse, mas consegui, e ele fez a maior propaganda. Ia para uma reunião, cruzava as pernas. O povo via e encomendava. Depois, as mulheres queriam também, daí veio a de Maria Bonita”. Nesse tempo, não gostava dos artigos femininos.

“Elas me aperreavam muito. Terminava um modelo, pediam de outra cor. Era melhor tratar com os homens. Fazia bota que durava anos”. Até diz ter sido  castigado: “Mas foi um castigo bom, pois compram bem”, brinca. 

Para dar conta da produção, labora de domingo a domingo, das 4h da manhã às 20 horas. Só desenvolve peças com o DNA da família Seleiro. Ou seja, nunca seguiu design alheio. “Não adianta, não consigo trabalhar com modelo de ninguém”. Foi a resposta dada quando estilistas da Cavalera bateram à sua porta, em 2005. “Gosto de fazer minhas mugangas no meu estilo. Eles aceitaram. Terminou sendo um dos melhores momentos da minha vida”.

Embora tenha se sobressaído com esses modelos, diz que, graças a Deus, o tempo do cangaço acabou. “Essa vida não tinha futuro. Meu pai chegou a vender para eles, até para Lampião, mas prefiro meus clientes”. Portanto, ao adotar o estilo do cangaço, ao invés de se distanciar, se reencontrou com gerações passadas. 

Não à toa, quando especialistas se referem à capacidade inventiva do mestre, o discurso se assemelha: ele está sempre renovando, mas mantém a tradição. A diretora da A Casa - Museu do Objeto Brasileiro, Renata Mellão, é enfática: “Seu trabalho tem consistência bastante forte de identidade. Coisa brasileira. Muito benfeito e extremamente criativo. Tanto no desenvolvimento do objeto quanto na estética. Tudo com muita proporção. Ele tem um olho ótimo. É um deslumbre”, diz a responsável por levar a exposição itinerante a São Paulo.

A “Espedito Seleiro: da sela à passarela” teve a primeira versão em 2012, no Rio de Janeiro, realizada na Sala do Artista Popular, pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. A antropóloga Guacira Waldeck, que assina a pesquisa e o texto do catálogo da mostra, afirma: “Em Nova Olinda, constatei a autenticidade do trabalho de Espedito e sua família. O barato é que ele é reconhecido também na sua terra. Um autodidata surpreendente que tem muito a dizer sobre o couro. A lição que recebemos dele é incrível. Domina o que faz, tem olhar sempre renovado, porém não perde o encantamento”.
A obra do cearense encontra-se ainda exposta em outro evento paulistano: a coletiva “Design da periferia”, no Pavilhão das Culturas Brasileiras. Nela, constam gibão, bolsas, sandálias e uma sela.

 A designer e curadora do espaço, Adélia Borges, define: “Espedito não se limita a perpetuar as técnicas tradicionais aprendidas com o pai, mas inova na estética. É um verdadeiro designer. Ousa nas cores e nas combinações, atendendo com essas criações um consumidor urbano, contemporâneo. Ou seja, soube se adaptar aos tempos e a novas demandas. Foi ‘empurrado’ para isso pela falta de mercado. Outros poderiam ter desistido do ofício, ele encarou esses ‘nãos’ como desafio para fazer algo com identidade própria. Gosto muito do trabalho dele. Meus filhos e eu usamos seus produtos!”

Documentário

Além das exposições, o mestre é o fio condutor  de  “As sandálias de Lampião”. Com 26 minutos, o documentário será exibido pelo Canal Brasil. Ainda sem data para a estreia, retrata a civilização do couro no Ceará por meio da história de Espedito, sendo um dos 15 projetos da 3ª edição do Edital de Apoio a Documentários Etnográficos sobre Patrimônio Cultural Imaterial (Etnodoc).  

A designer Paula Dib, codiretora do filme, diz ser impressionante a sua fidelidade: “Ele bebe na mesma fonte com grande habilidade de conectar tradição e modernidade. É uma história viva. Teve de se abrir para o mundo, mas não se perdeu. Sabe muito bem onde está o lastro dele. E foi esse lastro que o fez ressurgir quando precisou se renovar”.

E como o próprio Espedito se define? “Essa pergunta é cruel”, diz, aos risos. “Me sinto uma pessoa conhecida, um homem trabalhador para viver, para manter meus compromissos. Só isso”. E  lembra o que certa vez o cordelista Klévisson Viana lhe dissera: “você conseguiu mostrar o sertão que vivia escondido”.

Museu do couro

Sempre entusiasmado, apenas perde a graça quando se refere às imitações: “Nunca me incomodei de ensinar a ninguém. Só fico triste de ver um pessoal fazendo peças sem qualidade parecidas com as minhas. O povo pensa que é da gente. Por isso, resolvi marcar com meu nome”.  

Nome que virou grife e, se depender da vontade de muitos, será igualmente de museu em Nova Olinda, porém ele está reticente. Não deseja personificar o espaço que pretende inaugurar no próximo 29 de outubro, data em que completará 74 anos. Com recursos próprios, começa a montá-lo num prédio vizinho ao ateliê, onde também funcionará a oficina-escola. 

No acervo, reunirá, além da família Seleiro, parte da trajetória do couro no Cariri. Uma manta feita pelo pai e duas máquinas de costuras dos avós estão entre as peças. “Quero que daqui a 100, 200 anos, essa história seja lembrada. Se alguém me ajudar, tudo bem, senão, faço o museu do mesmo jeito”.  

picasion.com
gif maker picasion.com is here

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui, seu comentário.

Publicidade

Publicidade

MAPA

MAPA

Arquivo do blog

Siga no Facebook

Calendário

Google +

DEIXE SEU RECADO

Malvinas News Nosso portal de notícias





Programação Completa

Programação Completa
Realização: Associação doa Moradores,COMID, Comissão Administrativa da Capela de Nossa Senhora Aparecida - Apoio: Prefeitura Municipal de Barbalha, paróquia de São Vicente de Paulo, Amigos Virtuais Comunicação Visual e Malvinas News no AR

ESPAÇO PUBLICITÁRIO

COMUNICADO

LOGO

LOGO

Brasil


Brasil - Graphics, Graficos e Glitters Para Orkut

Confira mais gráficos para Brasil em ScrapsWEB.com.br

ÍOGO

ÍOGO

Postagens populares

Estamos no Twiter

Popular Posts

Google maps