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Política
"Sítio em Atibaia"
O sítio em Atibaia, frequentado por Lula e familiares (Foto: Jefferson Coppola/Revista Veja) |
A ex -dona de uma loja de materiais de construção e um prestador de serviço de Atibaia
(SP) afirmaram à Folha que a empreiteira Odebrecht realizou a maior parte das obras de
reforma em um sítio frequentado pelo expresidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus
familiares.
A reforma teve início em outubro de 2010, quando Lula estava no fim de seu segundo
mandato como presidente.
A Odebrecht disse que, após apuração preliminar, não identificou relação da empresa com
as obras. Lula não quis comentar.
A propriedade rural, de 173 mil m² (o equivalente a 24 campos de futebol), está dividida em
duas partes. Uma delas está registrada em nome de Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar,
amigo que fundou o PT com Lula. A outra pertence formalmente ao empresário Jonas
Suassuna, sócio, assim como Bittar, de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do ex - presidente.
A Odebrecht gastou nas obras cerca de R$ 500 mil só em materiais, estima Patrícia
Fabiana Melo Nunes, 34, à época proprietária do Depósito Dias, loja que forneceu produtos
para a reforma no sítio.
"A gente diluía esse valor total em notas para várias empresas, mas para mim todas elas
eram Odebrecht", diz.
Segundo Patrícia, que não quis ser fotografada, os trabalhos no sítio foram coordenados
pelo engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa, que cuidou da construção do Itaquerão,
estádio do Corinthians, outra obra da empreiteira.
Em entrevista à Folha, o engenheiro confirmou que trabalhou na reforma. Disse, porém, que
estava de férias da Odebrecht no período, prestou serviços de graça e não sabia que o ex-presidente
tinha ligação com o local.
Patrícia afirmou que abriu na loja um cadastro em nome da Odebrecht, mas, a pedido do
engenheiro, emitiu notas de compras feitas pela construtora em nome de outras
companhias. Parte dos materiais, admitiu ela, foi comercializada sem registro fiscal.
Como compravam muito no depósito e no sítio não havia sinal de internet, Patrícia disse ter
cedido uma mesa no estabelecimento para Igenes Irigaray Neto, arquiteto responsável pela
reforma. Durante os cerca de dois meses da obra, além do arquiteto, Barbosa também ia
praticamente todos os dias à loja, disse Patrícia.
REFORMA
Em área arborizada, o sítio possuía antes da reforma um lago, uma estrada de acesso e 29/01/2016 Odebrecht fez obra em sítio ligado a Lula, diz fornecedora Site Miséria
http://www.miseria.com.br/?page=noticia&cod_not=162758 2/3
uma casa antiga. Depois, ganhou nova edificação com quatro suítes e um espaço de lazer
com churrasqueira.
Segundo Patrícia, os pagamentos da construtora eram feitos semanalmente. "Eu lembro
que o Quico [apelido do engenheiro] ligava para um outro senhor, que orientava sobre como
era para fazer as notas. Eu não tinha o telefone, o endereço, nada desse outro senhor. Só
sabia que na sextafeira às três horas da tarde ele passava lá para pagar. Os pagamentos
giravam em torno de R$ 75 mil a 90 mil por semana, em dinheiro vivo".
"Era uma mala que tinha outros valores também para pagar para os pedreiros, serventes,
etc. Ele ia tirando envelopes de papel pardo. Dava para ver que tinha uma organização na
mala para ser rápido, pagar o pessoal em ir embora. Ele só fazia isso", diz.
Segundo Patrícia, algumas empresas já clientes da loja faziam pedidos e determinavam o
sítio como local de entrega dos materiais. Ela contou que havia grande pressa para terminar
a reforma até 15 de janeiro de 2011, e em certo período a loja trabalhou quase
exclusivamente para a obra.
O motorista e marceneiro Antônio Carlos Oliveira Santos, 45, disse ter feito serviços de
marcenaria no sítio e afirmou que os trabalhos eram chefiados por um engenheiro chamado
Frederico.
"Ele [Frederico] me disse que era da Odebrecht, que a Odebrecht estava comandando
aquilo. Fui pago por ele em dinheiro vivo. Me chamou a atenção a abundância de dinheiro
na obra". "Todo mundo comentava que o sítio seria para o Lula, mas o Frederico nunca me
disse isso".
RELAÇÃO COM EMPREITEIRA
Maior empreiteira do Brasil, a Odebrecht se aproximou de Lula quando este chegou ao
poder. Durante a gestão do petista, a empreiteira participou de algumas das maiores obras
do país, entre elas a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
A Odebrecht é acusada pela Operação Lava Jato de envolvimento em desvios na Petrobras
que somam R$ 6 bilhões. O expresidente do grupo, Marcelo Odebrecht, está preso há sete
meses.
Lula é alvo de investigação tocada pelo Ministério Público do Distrito Federal para apurar
suposto tráfico de influência praticado por ele junto a políticos de outros países,
principalmente da África e da América Latina, para conseguir contratos para a Odebrecht.
Lula nega ter cometido irregularidades.
Na entrevista à Folha, Patrícia Nunes disse
Em abril de 2015, a revista "Veja" informou que o expresidente da OAS Léo Pinheiro, que é
amigo de Lula e um dos alvos da Lava Jato, pretendia, em uma eventual delação premiada,
contar que realizou uma reforma no sítio de Atibaia a pedido de Lula. A Polícia Federal
passou a investigar se a OAS beneficiou o expresidente.
OUTRO LADO
Questionada pela Folha sobre o fato de fornecedores da obra no sítio em Atibaia terem
afirmado que a Odebrecht foi a responsável pela compra de material e realização das obras
no local usado pelo expresidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família, a empresa afirmou
não ter relação com o terreno.
"Após apuração preliminar, a Construtora Norberto Odebrecht não identificou relação da
empresa com a obra", disse por meio de sua assessoria de imprensa.
Procurado, o Instituto Lula disse que não iria se manifestar sobre o conteúdo da
reportagem.
O empresário Fernando Bittar, um dos donos da propriedade rural, e que é sócio de Fábio
Luís na Gamecorp, não respondeu a nenhuma das tentativas de contato feitas pela Folha.
A reportagem telefonou diversas vezes para a empresa de Bittar e enviou emails, mas não
obteve resposta até o fechamento dessa edição.
O empresário Jonas Suassuna, sócio de Fábio Luís, filho mais velho de Lula, informou que
a área que ele possui fica ao lado do sítio e não contém nenhuma das benfeitorias descritas
na publicação.
"Não sou dono do sítio Santa Bárbara, sou dono do sítio ao lado. No meu terreno não há
nenhuma edificação, e ele foi comprado com o meu dinheiro. Não conheço a Odebrecht.
Sou só vizinho e isso não me parece crime", disse.
Nas escrituras, a área de 173 mil m² está dividida em duas partes, uma registrada em nome
de Bittar e o outra no nome de Suassuna. Os dois terrenos vizinhos foram comprados em
2010, pouco antes das reformas terem início, do mesmo proprietário.
Frederico Barbosa, engenheiro da Odebrecht que participou das obras, diz que o fez por
meio de outra empresa e que seu trabalho foi "apoio informal".
Fonte: Folha de São Paulo
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