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19/12/2011
Jarbas Rocha
Dudu souza Colaborador Assú RN
“Traição é traição, romance é romance. Amor é amor e o lance é o lance”. Assim diz o refrão de uma música popular presente em toda balada jovem da capital do Rio Grande do Norte, o estado vice-campeão em matéria de infidelidade, segundo aponta uma pesquisa feita por um site especializado em traições. O Estado só perde em número de traições para a terra do axé, a Bahia, que lidera o ranking no Nordeste. Os potiguares são vice-campeões em infidelidade na região: já são 10 mil traidores no Estado, de acordo com o levantamento, que considera apenas os usuários cadastrados no site. Para os norte-rio-grandenses, a infidelidade continua sendo uma forma de apimentar a vida íntima. Obviamente não se trata de um estudo empírico sobre o caso, mas apenas a versão de um site da internet, o Ashleymadison.com. Os dados não são oriundos de uma pesquisa de opinião com análise qualitativa de dados. Ainda assim, não deixa de ser uma curiosidade. É possível que a explicação para o fenômeno da infidelidade esteja no clima quente, ou talvez em ritmos frenéticos e sensuais como o forró e o axé. Quiçá um tantinho da cultura local, herdeira da miscigenação colonial? Bom, independente do motivo, o fato é que a região Nordeste também aparece no topo da lista em casos extraconjugais. “Os nordestinos são os amantes mais sensuais do país”, afirma Eduardo Borges, representante da empresa no Brasil, que lança oficialmente o site em Natal este mês de dezembro, depois de tão repentino sucesso na terra de Poti. Os dados oficiais que mais se aproximam do assunto são os que foram divulgados recentemente nas Estatísticas do Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, 179 casais no Estado se separaram e 1.115 se divorciaram em processos judiciais não consensuais. Entre os motivos, a conduta desonrosa ou a violação dos direitos do casamento. Outro campo fértil para as traições é a internet. Levantamento conduzido pelo instituto QualiBest, encomendado por uma revista nacional em julho passado, mostra que 41% dos brasileiros já tiveram algum tipo de interação virtual que pode ser considerado traição durante algum relacionamento sério. Desses, 57% são homens e 43% mulheres. A psicóloga e sexóloga Cristina Hahn, que é brasiliense e mora em Natal há mais de 20 anos, afirma que os potiguares dão valor excessivo às aparências. “Com esse comportamento, muitas vezes é preciso manter intactos os laços do matrimônio por uma questão ou convenção social, mas por outro lado, vivencia o prazer de uma relação extraconjugal que carrega consigo o peso da proibição”, opina. Sempre há, acrescenta ela, justificativas culturais e biológicas para a traição. Em termos culturais, o Nordeste como um todo tem o estigma do homem machista, o famoso ‘pegador’. “É como se estivesse implícita nas relações de casal, uma certa ‘autorização’ ao homem para trair com a justificativa de que isso é normal, que faz parte da natureza masculina. É algo parecido com: ‘Homem que trai é viril, mulher que o faz é vadia’. A questão a ser levantada é que, visivelmente, o número de mulheres que traem seus parceiros aumenta a cada dia”, explica a sexóloga. Isso se deve à educação da mulher, hoje mais emancipatória, com mais independência financeira, o que a torna emocionalmente segura e estável sobre seu valor feminino social, “consciente da abrangência do papel esposa-amante-mãe-profissional e, acima de tudo, uma mulher em busca da sua satisfação sexual”. Cristina Hahn diz que praticar a fidelidade ou a infidelidade é uma decisão comum. “Trair ou não trair, eis a questão. Ou melhor dizendo, eis a escolha. Todo e qualquer sentimento faz parte da condição humana. Os sentimentos não devem ser moralizados, não devem ser classificados em bons ou maus, certos ou errados, normais ou anormais. Os sentimentos apenas são”. A sexóloga explica que os sentimentos das pessoas geram desejos. Transformar o desejo numa ação é que requer poder de decisão. “Precisamos ter a consciência das consequências de nossas escolhas e assumí-las com coragem”. A terapeuta de casais Syrleine Penaforte, afirma que a traição é motivada por diversos motivos e que, nesse caso, é preciso dar mais atenção ao casamento do que a traição. “Quando há a brecha para uma terceira pessoa na relação, a relação entra numa situação de vulnerabilidade e risco. Há pessoas que traem por compulsão, por questão de geração (pai também traiu), enfim, mas não enxergo a traição com uma conotação moral e religiosa, e sim como uma questão histórica e cultural”, afirma ela. A traição não é boa para a relação. “A responsabilidade da relação saudável é dos dois. Se um trai para tentar se manter no casamento, vai estar satisfazendo necessidades suas, não do casamento”.
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