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Ceará
"17º edição da Mostra Sesc Cariri de Culturas"
Relato do Tribuna do Ceará sobre o espetáculo causou choque em alguns leitores (FOTO: Divulgação) |
egundo o coletivo Macaquinhos, o espetáculo em que artistas colocam o dedo no ânus uns dos outros, apresentado na última quarta-feira, é uma crítica à imponência do hemisfério norte sobre o sul. O espetáculo paulista“Macaquinhos” gerou burburinho nas redes sociais cearenses esta semana. Isso porque imagens da apresentação artística, nas quais os participantes corriam em círculos enquanto colocavam o dedo no ânus uns dos outros, chocaram a muitos.Apresentado pela quarta vez, na 17ª edição da Mostra Sesc Cariri de Culturas, em Juazeiro do Norte, no Cariri, o espetáculo é inspirado no livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro. Para os oito artistas envolvidos na intervenção, explorar o orifício anal é uma forma de criticar a imponência do hemisfério norte sobre o hemisfério sul. Apesar do choque da população ser visto pelo coletivo como resultado do tabu que ainda existe sobre o nu e, também, sobre o ânus, o grupo nega que o espetáculo tenha isso como objetivo principal.
Confira a entrevista do Tribuna do Ceará com Andrez Ghizze, Caio Cesar, Daniel Barra, Fernanda Vinhas, Luiz Gustavo Fernandes Lopes, Rafael Amambahy, Renata Alcoba e Teresa Moura Neves.
Tribuna do Ceará – O espetáculo existe desde 2011. Por quais cidades já passou?
Coletivo Macaquinhos – Foram quatro apresentações, no Museu do Piauí, Galeria Vermelho, 22º Festival Mix Brasil de Cultura e Diversidade no CCSP e, agora, na Mostra Sesc Cariri de Culturas em Juazeiro do Norte.
Tribuna – Qual a idade e naturalidade dos artistas?
Macaquinhos – Sua maioria está na faixa etária entre 20 a 30 anos, vindos em sua maioria do estado de São Paulo e também de Salvador e Rio de Janeiro.
Tribuna – Os artistas são os mesmos desde o início ou a turma é renovada a cada temporada?
Macaquinhos – O trabalho começou com três pessoas e, hoje, não saberíamos dizer com exatidão em quantos somos, pois o trabalho e as circunstâncias que ditam isso. Nós temos uma rotatividade natural do trabalho por conta de distâncias físicas e dificuldades que a dinâmica do próprio trabalho impõe.
“Como o Macaquinhos aborda uma parte subestimada do corpo humano e, para isso, lida necessariamente com o nudismo, é de se esperar reações de cunho mais conservador”. (Coletivo Macaquinhos)
Tribuna – A reação das pessoas tem ficado mais positiva ou negativa?
Macaquinhos – Apesar de serem quatro anos, apresentamo-nos quatro vezes. As opiniões são muito diversas, e acreditamos ser difícil sintetizar as reações em positivo e negativo.
Tribuna – Como foi a criação do enredo? De onde veio a inspiração?
Macaquinhos – Macaquinhos começou em 2011, em Teresina, com um convite de fazer parte de uma mostra de performances e instalações dentro do Museu do Piauí. Começou a partir da leitura do livro “O povo brasileiro”, de Darcy Ribeiro, assumindo a pluralidade do ser brasileiro e trazendo a metáfora do hemisfério sul, representados pelos povos misturados de negro, índios e europeus, no corpo. Questionando a imponência do norte sobre o sul e a ficção criada do entendimento de que o que está em cima é mais importante do que está embaixo, paramos para olhar para o cu, aprender a ir para o cu e aprender com o cu.
Tribuna – Em Juazeiro do Norte, antes mesmo da apresentação, algumas pessoas divulgaram imagens do espetáculo com comentários negativos. Vocês estão acostumados com esse tipo de situação? Por quê?
Macaquinhos – Sabemos que o nu e o próprio corpo humano, de um modo geral, sofrem o estigma de serem tabus nessa sociedade que produzimos juntos. Como o Macaquinhos aborda uma parte subestimada do corpo humano e, para isso, lida necessariamente com o nudismo, é de se esperar reações de cunho mais conservador. Existe ainda um fator importante a salientar: o fato da maioria das pessoas que comentam o trabalho terem acesso somente a fotos e vídeos editados, e não à apresentação ao vivo e na íntegra, que é o Macaquinhos em sua totalidade. A parcialidade desses recortes determina toda uma sorte de opiniões.
Tribuna – Em que cidades a peça chocou mais?
Macaquinhos – É uma discussão que atravessa as fronteiras regionais.
Tribuna – Qual o público que mais reclama da intervenção? São jovens, velhos, homens, mulheres?
Macaquinhos – É uma discussão que atravessa todas as idades e sexo.
Tribuna – A arte, em especial a Macaquinhos, é feita para chocar mesmo?
Macaquinhos – Macaquinhos não é feito para chocar, mas temos consciência que isso pode acontecer com algumas pessoas.
“Questionamos a imponência do norte sobre o sul e a ficção criada do entendimento de que o que está em cima é mais importante do que está embaixo”. (Coletivo Macaquinhos)
Tribuna – Como vocês enxergam a arte no país? O brasileiro precisa conhecer mais sobre o tema?
Macaquinhos – O Brasil antropofagiza por essência. Ao mesmo tempo somos uma potencia artística e convivemos com frentes reacionárias: é um misto de liberdade de expressão e repressão. Essa fricção levanta discussões importantes para o nosso contexto atual e, por isso, é de extrema importância a existência do trabalho.
Tribuna – Vocês já pensaram em desistir de apresentar a peça por causa dos comentários?
Macaquinhos – Não. Pelo contrário, a repercussão é um sintoma que demostra a importância do trabalho: o quanto a nudez e o cu ainda são tidos como tabus. Desta forma, a viralidade que os materiais veiculados trazem nos estimulam a dar continuidade com as nossas investigações.
Tribuna – Existem apresentações marcadas para este ano? E para o próximo?
Macaquinhos – Para este não, mas estamos pleiteando apresentações para 2016.
Fonte Tribuna do Ceará |
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