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Regional
"Chuvas Abaixo da Média"
Nas roças, a expectativa é de prejuízo na colheita de milho e feijão. (Foto: Elizângela Santos) |
Agricultores do Cariri já registram perdas nos cultivos agrícolas com a falta de chuvas. E as
perspectivas já não são tão otimistas pelos indicadores da Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O último prognóstico deu a probabilidade de
chuvas abaixo da média histórica de 70%, válido para os meses de março, abril e maio.
A previsão de ficar acima da média, nesta quadra chuvosa, é de apenas 5%. O mês de
janeiro superou as expectativas e esteve acima da média para muitas cidades, mas
fevereiro está fechando sem praticamente ter precipitações e as plantações estão com
lagartas e secando, gerando prejuízos aos produtores da região.
Os sindicatos de agricultores estão se mobilizando para buscar alternativas que minimizem
os impactos já causados pela falta de chuvas, que se acentuou, principalmente, no mês de
fevereiro. Nos reservatórios da região, segundo números da Companhia de Gerenciamento
de Recursos Hídricos do Estado (Cogerh), a exemplo da Bacia do Salgado, não houve
praticamente ganhos.
A distribuição de sementes do governo do Estado foi antecipada no Cariri neste ano e
entregue antes mesmo do lançamento oficial do Projeto Hora de Plantar, que repassou aos
agricultores, em grande parte das cidades da região, 262. 580 mil quilos grãos, beneficiando
cerca de 9 mil agricultores.
Desoladora
A finalidade dessa antecipação era justamente não perder mais tempo, já que as chuvas
vieram desde o começo de janeiro. A entrega ocorreu por meio da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), começando pelos municípios de Crato,
Juazeiro do Norte, Jardim e Barbalha.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) do Crato, Antônio Alves da
Gama, o Tota, essa realidade tem sido desoladora para os produtores rurais e muitos deles
estão perdendo totalmente o roçado pela falta de chuvas.
Segundo ele, as perspectivas são poucas e agora é apelar por chuvas no mês de março.
Ele, junto com outros dirigentes de sindicatos da região, fez coro para que as sementes
fossem distribuídas de forma antecipada para não perderem as precipitações registradas
em janeiro.
O Cariri é a região do Estado em que as precipitações da préestação se apresentam
primeiro, normalmente sendo registrado prognóstico de quadra chuvosa a partir da segunda
quinzena de fevereiro. "Mas, o costume do agricultor na região é iniciar o plantio com as
primeiras chuvas", diz o presidente do sindicato, ao solicitar do governo a distribuição das
sementes antes mesmo dessas previsões.
Ele ainda disse que, possivelmente, nos próximos dias, caso não chova, não haverá
aproveitamento dos plantios realizados na região. Conforme Tota, as sementes distribuídas
neste ano foram poucas e quem recebia milho não ficava com o feijão e da mesma forma
para quem optava pela segunda opção. "Ainda não tinha visto como ocorreu este ano. Além
de pouca, agora tem a questão da falta de chuva. Sempre digo que a Funceme tem as
previsões certas quando diz que é irregular, mas não tem autoridade para falar quando o
povo vai plantar. Isso quem tem que dizer é o produtor", afirma Tota.
Acúmulo
O armazenamento da água em reservatórios do governo era uma das grandes expectativas
dos pequenos produtores. Alguns deles, como o Tomás Osterne, em Crato, teve sua
capacidade de armazenamento reduzida e se aproxima do volume morto.
O gerente regional da Cogerh, Alberto Brito Medeiros, afirma que a Bacia do Salgado
praticamente não teve ganhos. Ele dá o exemplo do Açude Lima Campos, em Icó, que
conseguiu um acúmulo de 5 milhões de m³ de água e perdeu 2 milhões de m³ desse
volume.
No caso do Cariri, o Açude Tomás Osterne, em Crato, até o começo da semana estava com
4 milhões de m³, com 12,8% de sua capacidade; e o Manoel Balbino, em Juazeiro do Norte,
atualmente usado somente para abastecer o Município de Caririaçu, que entrou em colapso
no abastecimento, se encontra com 3,95 milhões de m³. No fim do ano, estava com 7,21%
de sua capacidade.
Perdas
Uma das cidades que, nos últimos anos, tem reduzido a quantidade de área plantada de
milho, Missão Velha já foi a que mais se destacou na região por esse tipo de cultivo e
grande produtividade. As perdas já são lamentadas pelos agricultores. Em grande parte do
milho já há presença de pragas e a terra está praticamente seca. Para o presidente do
Sindicato local, Cícero Honorato, é lamentável vivenciar mais um ano de seca, com
prejuízos incalculáveis para a agricultura local. No ano passado, a perda foi de mais de 50%
da produção.
A falta de perspectiva, conforme o presidente do Sindicato, tem levado os agricultores a
investirem no plantio irrigado de banana. Nos últimos anos, houve um crescimento nessa
modalidade de cultivo, que vem abastecendo a própria região e há comercialização para
outros Estados vizinhos.
Ranking
Por vários anos, a terra que tem como padroeiro São José foi uma das maiores produtoras
de milho, não só do Cariri, mas do Interior do Ceará. Atualmente, o presidente do STR
afirma que nem sabe como se encontra essa posição. "Os reservatórios estão secando e há.
uma necessidade de mobilização, para se pensar políticas públicas que atendam o homem
do campo", diz.
Erro feio
Para Tota, do STR de Crato, a Funceme errou em janeiro, dizendo que não tinha chuva, e
houve, além de divulgar que teria precipitações na segunda quinzena de fevereiro, o que
não ocorreu, desfavorecendo o plantio e causando tensões para o agricultor diante da
dúvida.
"Acredito na ciência, mas, para o agricultor, começou janeiro, é tempo de inverno", diz ele,
ao acrescentar que ainda há esperança de boas chuvas neste ano. Ele acredita que, caso
não chova até este domingo, muito da produtividade poderá se perder.
Os representantes dos sindicatos regionais afirmam que, de qualquer forma, mesmo
ocorrendo chuvas para os próximos dias, há uma significativa perda na qualidade e
comprometimento da produção, que acaba sendo prejudicada pela insuficiência de chuvas.
O milho e o feijão estão numa fase de crescimento onde a água se torna indispensável para
o crescimento da planta e, consequentemente, uma boa produção no âmbito da agricultura
de sequeiro. Caso isso, ocorra será mais um ano de prejuízos para o pequeno produtor
rural, que ainda se mantém da crença de sobreviver no campo por meio da agricultura
familiar.
Enquete
Qual a esperança para a safra?
"O milho e o feijão que plantei no começo das chuvas de janeiro já estão perdidos. As
plantas foram tomadas pela lagarta. Agora é esperar chover de novo e plantar tudo
novamente para ter alguma produção". Francisco Ivan Oliveira Maciel agricultor
"O milho que eu plantei acabouse todo. Nunca tinha perdido um roçado como nesse ano,
apesar das chuvas em janeiro. Isso deixa a gente muito desestimulado. E é porque não
falhou uma cova".Antônio Dias Ferreira agricultor.
Mais informações:
Escritório da Ematerce
Telefone: (88)3521 2835
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Crato
Telefone: (88) 3523 3809
Fonte: Diário do Nordeste
"Elizângela Santos"
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