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Regional
"Polêmica"
Padre Cícero morreu aos 90 anos, com ordens sacerdotais suspensas pelo bispado do Ceará, devido caso conhecido como ´milagre da hóstia´ . Devoção por sacerdote se espalhou (Foto: Severino Silva/Agência O Dia) |
Uma polêmica e tanto agita os bastidores da Igreja Católica. Especialistas em processos
canônicos contestam o alarde que a Diocese de Crato, no Ceará, a dez quilômetros de
Juazeiro do Norte, vem fazendo em torno de duas cartas do Vaticano.
Na visão da Cúria
local, as correspondências garantem que Roma concedeu a tão sonhada reconciliação da
Igreja com o Padre Cícero Romão Batista, um dos candidatos a santos mais populares do
Brasil.
Padre Cícero foi excomungado pelo bispo do Ceará, dom Joaquim Vieira, acusado de
manipulação da fé. Ele não conseguiu fazer com que a Igreja reconhecesse o ‘milagre da
hóstia” — as comunhões dadas por ele à beata Maria de Araújo teriam se transformado em
sangue.
Como castigo, foi proibido de pregar, ouvir confissões e celebrar missas. Morreu
em 1934, aos 90 anos, sem ter esses direitos restabelecidos como sacerdote. Após sua
morte, o número de fiéis em romarias à cidade que ele fundou, Juazeiro do Norte, cresceu e
transformou as peregrinações num dos maiores encontros de fé do País.
Para críticos, porém, ambas não endossam que o Papa Francisco tenha concedido de fato
o perdão, transformando o episódio “numa possível farsa”, que seria alimentada pelo bispo
do Crato, dom Fernando Panico.
Em carta de sete páginas, de 20 de outubro de 2015, assinada pelo secretário de Estado do
Vaticano, Pietro Parolin, e endereçada a Panico, a diocese interpreta trechos como
sinônimo de reconciliação.
Principalmente o que diz: “Mas é sempre possível, com a
distância do tempo, reavaliar e apreciar as várias dimensões que marcaram a ação do
Padre Cícero como sacerdote”. Ao divulgar tal carta (íntegra em www.diocesedecrato.org),
em dezembro, com festa para 50 mil devotos, o bispo fez o milagre de triplicar as romarias
no Sertão do Cariri e a arrecadação para os cofres da Mitra Diocesana.
“Em momento algum o Vaticano fala em reabilitar, reconciliar ou perdoar o Padim Ciço.
Apenas realça as qualidades de Cícero, nada mais. É embromação”, diz o advogado Lauro
Barretto, devoto fervoroso do Patriarca do Nordeste.
Como estudioso de processos
canônicos, Barreto escreveu um livro que será lançado em abril.
Questionado pelo DIA, Armando Lopes Rafael, chanceler do bispado do Crato e portavoz
de dom Panico, entregou à reportagem outra carta inédita, em italiano. Datada de 5 de
setembro de 2014 e assinada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal
Gerhard Müller, “comunicando”, segundo ele, a conciliação.
“O Papa raramente assina cartas, delegando essa tarefa ao secretário de Estado. Existe
uma minoria que não gostou da reconciliação da Igreja com o Padre”, lamentou Armando.
“Essa carta de 2014 não garante a reconciliação. A Diocese de Crato interpretou errado as
duas cartas”, diz Lauro.
Jornal do Vaticano não deu a notícia
Em 2006, dom Fernando Panico formou uma comissão e deu entrada na Congregação para
Doutrina da Fé, no Vaticano, no processo de reabilitação. A polêmica em torno da
interpretação das cartas começa quando, com base nos estudos realizados pela Equipe de
Direito Canônico do Vaticano, o Papa Francisco ventilou que a Igreja deveria conceder a
reconciliação de Padim Ciço com a Igreja.
“Fico feliz por receber essa grande graça”, diz dom Panico num texto postado no site da
Diocese.
Reconciliação significa que a Igreja apaga qualquer oposição às ações de Padre
Cícero.
Nenhuma agência de notícias oficial do Vaticano, entre elas a Gaudium Press, tocou na
possível reconciliação.
Para o historiador e professor José Sávio Sampaio e o padre Nerí
Feitosa, maior biógrafo de Padre Cícero não há provas de que a Igreja fez as pazes com
Padim Ciço.
“Não há documento assinado pelo Papa Francisco, que diz claramente que a
Igreja se reconciliou com Padre Cícero”, diz Sávio. “Sugerir uma reconciliação não significa
que ela tenha se dado de fato”, diz Nerí.
Fonte: O Dia
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