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Fonte O Povo Online
Queda de braço no mundo acadêmico. O programa Ciência sem Fronteira, do Governo Federal, excluiu a área de humanas de seu edital e reavivou a discussão sobre esse tipo de financiamento no País. Foto Google Imagens
O professor Gustavo Lins Ribeiro reacendeu a discussão: em artigo no Valor Econômico, criticou a exclusão das ciências humanas do programa estatal Ciência sem Fronteiras (CsF), que financia a ida de graduandos, pós-graduandos e professores brasileiros de 18 áreas científicas consideradas prioritárias a universidades estrangeiras. A ideia é formar pessoal altamente qualificado em áreas tecnológicas, exatas e biomédicas.
“Um país (...) sem intérpretes de suas características (...) seria apenas uma colônia dos pensamentos de outrem. Em tal cenário, não pode haver inovação”, escreveu Ribeiro, que é presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
Ao lado de áreas como engenharias e nanotecnologia, o programa listava, na primeira seleção em 2012, “indústria criativa” como área de prioridade. “Existia certa ambiguidade sobre essa parte do edital”, afirma o estudante de Cinema da UFC, Victor Costa Lopes. Ele foi contemplado pelo CsF e, em junho último, voltou de Lille, no norte da França, onde estudou por um ano. Na avaliação dele - assim como de estudantes de áreas exatas ouvidos pelo O POVO -, a experiência foi positiva.
A ambiguidade acabou beneficiando alunos de humanas. Da turma de Victor, outros oito também foram selecionados. Mas CNPq e Capes, órgãos que organizam o CsF, decidiram refinar no ano passado o conceito de “indústria criativa”, que deverá ser “voltada a produtos e processos para desenvolvimento tecnológico e inovação”. A alteração gerou uma batalha judicial que se estende até agora. O Ministério Público Federal do Estado entrou com pedido liminar em ação civil pública para que os cursos da área de humanas fossem incluídos. O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, entretanto, acabou derrubando a liminar.
Paralelamente, um grupo de estudantes – 74 ao todo – entraram em abril com mandados de segurança para conseguir concorrer. A estudante de Psicologia da UnB, Laís Pires, é uma dessas. Ela administra a página do Facebook Ciência Com Fronteiras, que tinha até ontem cerca de 6900 curtidas. “As pessoas dão valor maior ao material, ao tangível e não às relações. Isso torna uma sociedade até mais doente”, avalia.
Para o chefe do Departamento de Ciências da Informação da UFC, professor Tadeu Feitosa, a medida até “exacerba as animosidades entre os campos científicos, na medida em que cria uma espécie de apartheid entre eles”. Já na avaliação feita pelo professor de Ciências da Computação da Unifor, Tarcísio Pequeno, a exclusão tem caráter mais “pragmático” por focar nas áreas que são mais carentes de profissionais para o projeto de crescimento do país. Esse é também o argumento do ministro da Educação, Aloízio Mercadante. Em janeiro, ele disse que o “déficit no Brasil não está em humanidades. (...) O déficit está nas engenharias”. Ainda segundo Pequeno, é de “bom senso” que as humanidades sejam acrescidas a médio prazo.
A pró-reitora de graduação da Uece, Marcília Chagas Barreto, aponta que países asiáticos mudaram o panorama educacional após investimentos semelhantes nos anos 1960. Para ela, ainda há descompasso no destino das verbas: pós-graduação recebe mais investimentos que graduação; entre as duas, cursos de humanas menos que ciências tecnológicas e exatas.
O POVO procurou o CNPq. Segundo a assessoria de imprensa, os novos responsáveis pelo CsF ainda não estavam habilitados a fornecer informações sobre o tema.
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